segunda-feira, 26 de setembro de 2011

MELANCHOLIA de Lars Von Trier


Lars Von Trier, este “enfant terrible” do cinema moderno, é uma fera! Diante de seu novo filme “Melancolia” só há que se lamentar as declarações de puro humor negro que ele deu no Festival de Cannes e que lançaram  sombra sobre seu filme. Uma pena, porque pelo menos no meu modo de ver “Melancolia” é seu melhor trabalho desde “Dogville”. Está tudo lá: a câmera tremida que às vezes incomoda um pouco e o esteticismo descarado e belo dos seus últimos trabalhos, mas mais que tudo, a crueza e o cinismo de quem tem um olhar agudo para civilização moderna (?), seus valores e decadências. “Melancolia” pode suscitar diversas interpretações e isto não é um defeito, mas eu gosto muito de vê-lo como uma sátira impiedosa aos cacoetes e valores burgueses. É impressionante ver aquela família de gente cheia da grana debatendo-se, entre incrédulos e apavorados, diante do inevitável. As lágrimas finais da mãe, interpretada no mais alto nível por Charlotte Gainsbourg, são o retrato patético de quem tem absolutamente tudo a perder e que não se conforma com isso. Não são lágrimas de tristeza, são de inconformismo. A burguesia intocável e invulnerável, pelo menos no cinema e na teoria, pode ser tocada e fragilizada, porque uma ideia é coisa perigosíssima! Lars Von Trier nunca é hipócrita e faz tudo o que é solido desmanchar-se no ar para nunca mais ressuscitar e dá uma declaração lúcida, autoritária e poética (talvez revolucionária!) da estúpida fragilidade das instituições baseadas em puros valores econômicos. Faz uma fábula endiabrada, talvez uma metáfora sem-vergonha, mas nos olhos de outra atriz, a encantadora Kirsten Dunst, ele dá o seu recado: quem nada tem, nada tem a perder. É preciso um cataclisma, um apocalipse, uma ideia de ficção científica do pé quebrado para que os olhos se abram. Como em “Dogville” Lars Von Trier reafirma sua condição de radical, cristão e marxista e por isso mesmo, tão artista quanto incompreendido. Que nunca se espere de um sujeito desses, declarações em cima do muro, nem filmes caretas ou hipocritamente otimistas. É um iconoclasta, um radical das imagens e fez um filmaço!!!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SAUDADES...

Café da manhã em Guaramiranga (Ceará) - Clique para ampliar
Viajar é experimentar saudades. Ir pra longe, pra mais longe possível – como agora que estamos, Grupo Delírio e eu, a mais de 3.000 quilômetros de Curitiba (Fortaleza, Guaramiranga, Sobral, Teresina...). E, viajando, escrevendo, lendo, ficar brincando com as palavras e com as ideias; fazer graça com o que há de mais divertido, emocionante e patético em nossas emoções viajeiras, porque, em grupo, soltos na vida, somos capazes de ações e raciocínios impensáveis na rotina simples do nosso dia a dia da província. Nunca se fala tanto, nunca se pensa tanto, nunca se sonha tanto, se deseja tanto, nunca se fala tanta merda em coletivo, fazendo de conta que a vida é veloz como um meteoro, que brilha, brilha e rápido some, no meio da noite. Sexo é um tema presente. Mesmo por que, pulando de cidade em cidade, ficando pouquíssimo em cada uma, os dias vão passando e a testosterona da gurizada vai gritando e saltando pelas orelhas. Que fazer? É possível (e bem provável!) que em 30 ou 40 dias de viagem não se tenha uma mínima chance de encontrar uma alma gêmea em termos carnais. E aí que vale seguir o conselho do velho Woody Allen: “Nunca despreze a masturbação. É fazer amor com a pessoa que você mais ama.” E talvez, entre as tantas experiências do Palco Giratório, essa de brincar consigo mesmo, seja uma grande chance. De quê? De autorreconhecimento talvez. Já que outra alternativa talvez nem haja. E o Gustavo Saulle ainda vai mais adiante, porque dividindo quarto com companheiros, um feliz momento de solidão também é raro. E sugeriu, quase inocente, que quando pinta a chance, o negócio é “adiantar a masturbação”. Garanti-la pelos próximos dias. Então que fica aqui, para a imaginação do leitor a compreensão desta técnica, rotineira para alguns mas, talvez, surpreendente para outros. E a saudade? Todas batem em nossas portas de hotéis! Do cachorricho (Speechless!) que pulou de cidade em cidade nesses tempos todos, do Guhstavo Henrique e seu olhar pra baixo, disfarçando uma timidez suspeita, do Áldice e suas mil e uma palavras e lógicas, que saem prontas e são indiscutíveis. E a expressão “na realidade” no começo da frase, pra dizer que alguma coisa tem que ser feita, independente de qualquer opinião contrária. Do Thiago Inácio, meu xodó, com seus dias de amargueza e tequila. Dos “Canalhas” de Passo Fundo, que me presentearam com um espetáculo maravilhoso, emocionante, moderno e forte. Nelson Rodrigues na veia! O comediante Zé Fidélis definiu saudade com uma frase tão divertida quanto cruel: “Saudade é um sentimento que a gente sente quando se sente a ausência de uma pessoa ausente que não está presente!” Mas viajar também é matar saudades, como o reencontro com o João Paulo Pinho em Guaramiranga, quando reconhecemos a praça, o teatro, o barzinho furreca onde jogamos sinuca e que não existe mais e o Bar do Odilon que ele me conta faleceu dois anos atrás (o Odilon!), mas que permanece firme (o bar!), cheio de gente; e jaguara, bagunçado como já era há quatro anos quando nos conhecemos num frevo pesado perto da madrugada. E vamos caminhando pelo Palco Giratório, vivendo a aventura do teatro por mares nunca dantes navegados e acumulando masturbações, saudades, amizades que vêm e vão, a culinária nordestina infinita em sabores e calorias, o calor total e uma outra outra lembrança da província, como ontem, quando fomos ao Shopping Teresina assistir (eu e o Guilherme) “Lanterna Verde 3D”, uma bomba!, e o Gustavo e a Cecé, “O Homem do Futuro”, (“lindo!”, segundo eles); e o Tiago encarando o “Planeta dos Macacos”(“satisfatório!”). Segue o Palco e, hoje em Teresina, vamos peitar às 15 horas, uma plateia de mais de 300 adolescentes. O que acontecerá? Jesus resistirá? Afinal, ele disse: “Vinde a mim as criancinhas!”, não me consta que tenha dito: “Vinde a mim os adolescentes!” Ok, é metáfora do coração, mas vale o trocadilho.
Edson e Guilherme fazendo turismo em Sobral (Ceará) - Clique para ampliar

PS: Fotos tiradas pelo fotógrafo oficial, Gustavo Saulle.