quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O AMOR NÃO DEIXA SOBREVIVENTES!

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Esta é uma das frases de Nelson Rodrigues que eu mais gosto. Reflete tudo o que eu venho sentindo e experimentando nesses tantos anos de vida, de teatro, de emoções e desafios. E, quem não? Daí que somos todos uns sobreviventes! A vida vai, vem e às vezes sinto me debatendo de um lado para o outro sem ter muita certeza de para onde o vento vai me levar, e de repente, quando dobro uma esquina, a surpresa: uma nova peça de teatro nasce! Eu sei que não é por milagre, mas também sei que no vórtice da vida louca, não parecia possível! Como hoje, que estreia aqui em Passo Fundo, minha nova aventura: CANALHAS!!!, Adaptação de crônicas apaixonadas de Nelson Rodrigues para um espetáculo canalha, com alguns atores canalhas, eu, um diretor canalha e um monte de gente em volta; um mais canalha que o outro. “Canalha”, esta palavra que ao longo do processo de criação do espetáculo, metamorfoseou-se em mil e um sentidos! Do mais ingênuo (?) ao mais trágico! A Cia. da Cidade virou, durante mais de três meses, minha casa, meu refúgio, meu porto de esperança, minha cura, minha paz... minha arte! Vim para cá, espírito no furacão da loucura, com meu cachorricho Speechless debaixo do braço e a certeza de que alguma coisa que refletiria minha visão do teatro e da vida, mais a amizade que me amarra ao Pieterson já há mais de 15 anos, fariam nascer, da paixão e do mistério, um espetáculo especial. E aqui, pensando também nas minhas opções dramatúrgicas, tenho a mais completa certeza de que AMO com a mais profunda intensidade, esse sujeito chamado Nelson Rodrigues! Já li tanto dele e, que me perdoem os radicais, mas entendo, concordo, aceito cada uma das suas opiniões sobre tudo, mesmo e até, quando ele é apenas um brincalhão irônico, pleno de inteligência. Um artista total? Não, Nelson Rodrigues é um homem total! Quero, com toda a força do meu espírito, continuar sendo um instrumento para que a sua literatura continue viva e sendo comunicada para o público, hoje e sempre! Mas volto à Cia da Cidade e à estreia de “Canalhas!!!”. Ontem, ensaio geral, Rodrigo Ziolkovski, Jean, Naiara, Letícia, Assunção, Pieterson, Marcio, Robson, Maicon e Pedro – eu (desavergonhadamente, dirigindo com um copo de cerveja na mão direita), olho, sinto de longe meus atores e seus textos e suas máscaras e me sinto muito, mas muito orgulhoso! Que belo espetáculo! Que trabalho intenso, verdadeiro, sincero até a raiz; vivo, enérgico, orgânico e sem-vergonha! E eu, como tenho a agradecer aos amigos que me receberam de braços abertos aqui em Passo Fundo, porque de coração mais aberto ainda, me deram mais uma chance de ser artista! Um puta artista! E de longe, sei o quanto é impossível manter-se vivo e poeta, sem os anjos da guarda que cuidam à distância, como também o Áldice (eternamente ao meu lado!), o Thiago Inácio, o Chico Nogueira, o Alfredo Gomes, o Marcos Minini e ainda os olhos curiosos e intensos do Guhstavo Henrique, tentando entender onde ele entra nisso tudo! Que dia feliz é esse da estreia, onde me agarro com unhas e dentes à minha maior paixão teatral: Nelson Rodrigues! E faço teatro com meus amigos. Não tenho pudores em afirmar que “Canalhas!!!”é o máximo! Arte, arte e arte, teatro como amo fazer. E pra terminar/comemorar, uma mistura de textos do Nelson, mais a minha contribuição em sentimentos: “Ah! Como deve ser invejado o homem que morre amando. Como deve ser invejado o homem que dedicou a vida ao amor. Como deve ser invejado o homem que foi amado até as duas últimas lágrimas de paixão e vida!” E o teatro? Ah, como deve ser invejado o homem que dedicou a vida ao teatro e por ele derramou até as duas últimas lágrimas de paixão e vida!
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domingo, 28 de agosto de 2011

Decepções e surpresas!


“Planeta dos Macacos – a Origem” era a minha maior expectativa para a temporada pipoca de 2011! O trailer era sensacional e os efeitos especiais da Weta de Peter Jackson prometiam alguma coisa muito próxima de uma revolução, trocadilhos à parte. Não, não acho que seja por isso, mas saí do cinema bastante frustrado, embora os efeitos mereçam o Oscar. Um roteiro frouxo e medroso e um diretor que capricha nas cenas de ação, mas não sabe dar conta de personagens, encarregam-se de atirar por terra um material riquíssimo e com fortes elementos de (melo) drama. Se por um lado tudo caminha para a construção da personalidade do macaco protagonista (Cesar), fruto de um milagre da ciência e de nenhum tipo de evolução natural ou inatural, o que enfraquece o contexto; quando o assunto é gente, os personagens entram e saem com a fragilidade de figurantes e a dimensão do clichê mais raso, sem que esperemos qualquer coisa deles que não o óbvio ululante, filho legítimo do mais vagabundo dos filminhos da sessão da tarde. A premissa da relação indigna dos homens com os animais e a beleza do olhar inocente de qualquer um deles, se desmancha logo no começo e o que poderia ser envolvimento emocional vira porrada. Em resumo, o filme de mais de 90 minutos é apenas o trailer alongado. Faltou a “Planeta dos Macacos – a Origem” uma, digamos assim, dimensão símia, um conflito shakespereano no sentido dramatúrgico. Algo que sobrava no primeiro filme da série (1968), com seus macacos maravilhosos e seus atores mais ainda (Roddy McDowall e Kim Hunter), embaixo de uma maquiagem que hoje parece tosca, mas que não escondia paradoxos, conflitos e dúvidas. Além do que, Franklin J. Schaffner dava uma aula de como dirigir um filme. É horrível quando se aguarda um filme com tanta ansiedade e ele simplesmente desaparece de nossa memória um segundo depois que saímos da sala do cinema. Fazer o quê? Mas, e ainda bem que sempre existe um “mas”, um outro trailer não decepcionou. Antes de “Planeta...” ainda em Curitiba, assisti ao trailer de “Amor a Toda Prova”, mais um título idiota para um filme americano, que não tem um título tão original assim (“Crazy, Stupid, Love”), mas pelo menos é mais divertido. Assisti ao filme aqui em Passo Fundo, ontem à noite. Com um elenco afinadíssimo (Juliane Moore, Steve Carell, Ryan Gosling e Emma Stone), essa comédia meio dramática, meio boulevard torce e retorce as desavenças do amor, esse clichê que não dá a mínima para questões como idade, condição social ou valores individuais. Quando o assunto é amor, nada fica em pé e tudo é possível. Os diretores Glenn Ficarra & John Requa (que dirigiram o estranhíssimo e horroroso "I Love You Philip Morris") parecem conhecer cada nuance das expressões amorosas e têm um carinho todo especial para os sentimentos reprimidos e para as atitudes sinceras. Seus personagens deixam-se levar pelas emoções e assim vão se encontrando e descobrindo que a vida é exatamente como ela se apresenta diante de nós e todo o resto é mistificação. É preciso aceitá-la, deixar-se levar por ela e nunca desistir. Como disse Clarice Lispector no início de “A Hora da Estrela”: “Tudo no mundo começou com um sim...”. “Crazy, Stupid, Love” é uma surpresa. Um filme de roteiro consistente e grandes coisas a dizer. Apaixonante, emocionante, encantador. Daqueles que não dão vergonha quando uma ou outra lágrima sincera deixa-se rolar. No amor tudo é felicidade, mas não exatamente como imaginamos. Dá pra entender? Nenhum problema, o filme está em cartaz e merece ser visto. Bom programa!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Alguma coisa acontece no meu coração... e os escultores do tempo!


Estive em São Paulo, vivendo o Palco Giratório com o espetáculo "O Evangelho Segundo São Mateus", no Sesc Pinheiros e comemorando meu aniversário no dia 18 de agosto. Quando me perguntam quantos anos tenho, a resposta é imediata: "O suficiente!". E estamos conversados. Agora teatros! Na terça-feira fomos assistir "Macumba Antropofágica" no Teatro Oficina, com direção do Zé Celso Martinez Corrêa e luz do Beto Bruel. Ninguém deveria morrer sem antes ter assistido a um espetáculo do Zé, faz parte do aprendizado da vida e da consciência do muito que é o teatro. Há vinte anos fiz assistência para ele, no primeiro Festival de Curitiba, quando ele trouxe sua versão de "As Criadas" de Jean Genet, com o título de "As Boas". Não chocou Curitiba com sua irreverência, seu anarquismo e seu caos dionisíaco, mas porque arregaçou o cu na boca de cena. Cu, realmente é um escândalo! Ninguém se escandaliza com corpos sendo dilacerados em guerras no Jornal Nacional, nem com o coletivo de políticos ladrões e assassinos que brotam pelas árvores do Brasil, como pragas. Mas cu escandaliza. Sei. O que escandaliza mesmo é a liberdade! Zé Celso me ensinou muito naqueles dez dias, mudou minha maneira de ver a cena e cravou na minha consciência a ideia de que não importa que peça você esteja fazendo, você sempre estará com os pés no tablado e que tem que saber o porquê disso a cada segundo. "O que é isto, Zé?" "Stanislavski!", ele respondeu na lata! Em "Macumba Antropofágica" o Zé, a partir de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, faz uma desculpa pelo tempo pra desembocar no que o incomoda em nossas épocas: a reação homofóbica contra os direitos dos homossexuais e que aparece, descarada, em todas as formas e cores. Você não vê os evangélicos pagando outdoors condenando a fome, a violência e a corrupção. Mas usam a palavra de Deus para condenar o amor. Como se Jesus não tivesse dito: “Ama a teu próximo como a ti mesmo.” E a “Macumba...”? Um elenco de jovens atores, todos pelados totais, brincam, se beijam, rebolam, cantam e se expressam como índios, fazendo da roupa o signo do aprisionamento. Até a plateia fica sem roupa  e o espetáculo é o Zé de sempre, talvez menos elaborado, mas mais brechtiano que nunca e coerente até os ossos! Amo o Zé Celso, preciso dele, me alimento dele, vampirizo sua loucura para não me entregar à burocracia da mediocridade. Meu Zé Ninguém é poderoso e o Zé Celso é o meu Reich, batendo com o martelo de Dionísio na minha cabecinha, às vezes dura e medrosa. Viva Zé Celso Martinez Corrêa! E agora, pra variar, cinema! Na quinta-feira fui assistir "A Árvore da Vida", do Terrence Malick. Eis aí um diretor que tem um compromisso eterno com a própria mitologia. Todos cobram dele o original e por isso ele pode se dar ao luxo de tal. É um privilegiado. Seus filmes vão mal nas bilheteria mas a sua aura de "excêntrico" é necessária. Pelo menos para o meu gosto "A Árvore da Vida" é o seu melhor filme e uma das mais sensíveis experiências que o cinema nos oferece neste 2011. Terrence reflete sobre a infância, mas não apenas a infância física, mas a da vida na terra, aquela que permenece em nossa alma, apesar da maturidade; a experiência sensorial com a aventura da existência e suas cicatrizes. Faz uma viagem ora mítica, ora psicológica, onírica, imaterial e muito emotiva pelo exercício de pensar a própria vida. Não é um filme, é um estado filosófico! Como Clarice Lispector! Será que o Terrence ouviu falar dela?  Assim como Clarice usa as palavras para não entender a vida, Terrence usas as imagens para também encher-se de dúvidas! Viver ultrapassa qualquer entendimento! Sei que são coisas diferentes, mas não consigo deixar de pensar que o Zé com sua peça de mais de quatro horas e o Terrence com seu filme de quase duas e meia, fazem do tempo, matéria para escultura. São senhores dele. O que disse um dia o Tarkovski sobre a arte. Deitam e rolam no subjetivo para usar e abusar do tempo. Querem explicar toda a complexidade da vida em um único suspiro de obra de arte! Se conseguem? Não importa. Importa a experiência viva do momento. A cada segundo de suas respirações fazem uma nova, dividem conosco suas angústias e seu prazer pelo momento presente. São necessários e sabem disso. Teatro/cinema/arte. Em um determinado momento de "O Evangelho Segundo São Mateus", o Guilherme faz uma pergunta e uma provocação para a plateia: "Quem ouviu? Quem não ouviu não sabe o que perdeu!" Pois é, quem não viu um espetáculo do Zé ou um filme do Terrence Malick, não sabe o que perdeu. E pior: quem viu mas não viu. E estamos conversados.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

DÉJÀ VU


Toda a mídia de “Super 8”, de J. J. Abrams, apontava para um retorno aos bons tempos de Steven Spielberg, quando. “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, “ET” e “Goonies” eram reis do cinema e o nosso espírito adolescente se deixava embalar pelas novidades que Spielberg desenvolveu na escola de cinema: closes, movimentos de câmera, fotografia, uso da trilha sonora e elementos ícones da nossa infância como bicicletas, grupos de amigos, ausência da figura paterna e, claro, extraterrestres. O diretor J.J.Abrams é um revisionista e tem domínio incrível sobre a linguagem do cinema pipoca. “Super 8” traz, além de tudo, um elemento novo (?) praticamente desconhecido das novas gerações:  o próprio sistema Super 8, morto e enterrado pelo digital. Mas, mais que isso, o romantismo do desejo de dirigir um filme, construir vidas paralelas com o cinema e brincar de ser gente grande. A imagem em movimento, inventada e que dá colorido à vida e enche o coração de fantasia. Toda aventura infanto-juvenil é um rito de passagem e Steven Spielberg soube definir e tirar proveito disso como poucos diretores de cinema. Seu cinema de sucesso usou e abusou do adolescente que insiste em morar em nossos corpos amadurecidos.  J. J. Abrams e seu “Super 8”, filme homenagem, acerta em cheio quando explora esse espírito. Mas erra feio quando constrói uma história cheia de elementos de outros filmes ícones, mas que, absolutamente, não se encaixam para um filme de verdade. É como um álbum onde são coladas figurinhas de diversos outros, sem coerência dramática, sem plausibilidade e, quase, sem inteligência. “Super 8” é divertidíssimo, mas raso e óbvio e só se salva mesmo porque os efeitos especiais são de primeira (principalmente a primeira sequência) e o grupo de atores mirins, mais do que simpáticos e cheios de charme. Para o público americano que adora admirar a si próprio, “Super 8” deve funcionar como uma visita não monitorada ao museu do cinema que determinou duas décadas e que nasceu com o mago Spielberg; mas para o público internacional, com certeza, deve soar incompreensível e desnecessário. Claro, eu que sou tonto e assisti “E.T” sei lá quantas mil vezes e me identifiquei com o menino carente de afetividade que encontra o amigo extraterrestre, me diverti pacas. Mas o adulto que já mora dentro de mim há muitos anos, achou tudo uma (quase) perda de tempo, um desperdício de ideias e homenagem... uma varada na água. É difícil para um cinema que precisa entulhar os multiplex de gente à cada sexta-feira, reinventar-se e criar algo novo de verdade, mesmo que use o passado como referência. Não foi desta vez. E eu saí do cinema com duas imagens inesquecíveis, coladas para sempre na minha retina: uma nave mãe gigantesca surgindo plena e poderosa, por detrás da Montanha do Diabo e um garoto mais um extraterrestre voando, de bicicleta, diante de uma lua gigantesca e mágica. Nada em “Super 8” chega aos pés de qualquer uma das duas.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cinema é a maior diversão!


Não tenho muita paciência pra assistir filmes na televisão. simplesmente não consigo me concentrar e acabo levando dois ou três dias para ver um filme. Assisto um pouco, paro, faço alguma coisa, leio, converso, vejo um outro canal, fuço a internet, como, bebo e depois volto ao filme e assim o tempo vai passando e o filme sendo assistido aos pedaços, contrariando todo o sentimento de um diretor preocupado com o ritmo da edição. É assim. Por isso gosto de ir ao cinema e avançar para dentro de um filme no escurinho e lá adormecer nos braços do verdadeiro cinema, o que é feito pra ser visto na tela grande, o que emociona, faz pensar, vira e revira ideias. Mesmo os filmes/pipoca, cheios de efeitos visuais, tiros, gritos e nomes feios. Mas nem sempre é possível e às vezes a televisão é uma saída. Hoje em dia com as 50 polegadas tudo ficou mais palatável e então que o melhor é ir se acostumando. Não é possível frear o trem da história. Daí que aqui em Passo Fundo, entre um Nelson Rodrigues e outro, tenho curtido uns filmes e devo dizer que tenho experimentado uns prazeres muito grandes. Assisti "Hanna", de Joe Wright (Desejo e Reparação), com Saoirse Ronan e Cate Blachet. Uma mistura de triller com ficção científica disfarçada de drama íntimo. Daqueles filmes excelentes, vibrantes, emocionantes que saem do nada para chegar a lugar nenhum. Mas a direção é tão, digamos assim, antiga, que chega a empolgar. Joe resolveu brincar de Alfred Hitchcock e conta a história de sua pequena ninja artificial (Saoirse Ronan) e sua batalha pela sobrevivência. É uma espécie de "Capitão América" infantil, uma experiência que o filme não explica porque não deu certo. Mas a menina tem os poderes, é mais forte que Bruce Lee e sai distribuindo porrada pra todo lado. Cate Blanchet faz a bandida e repete o personagem que viveu no quarto Indiana Jones. Claro, mudou a cor do cabelo, mas as caretas são as mesmas. Cate é fantástica, mas precisa de profundidade. No raso ela é óbvia. Mas "Hanna" é empolgante e divertido. Já esqueci, mas é divertido. Assisti também "Deixa Ela Entrar", a refilmagem americana do filme (excepcional!) sueco. São filmes aparecentemente parecidos, mas diferentes. Matt Reves, o diretor da refilmagem americana é sensível e profundo. Carrega nas tintas, mas conduz a história do amor (quase) infantil entre um menino vulnerável e uma vampira milenar que tem 12 anos eternamente. Reeves não se entrega ao estilo americano de fazer cinema e por isso o filme não fez o sucesso esperado. Gosto dos dois. Gosto da explicitude do americano e da introspecção do sueco. E todos os atores, de um e de outro, são excepcionais! Um belo filme, que... claro, não precisaria ter sido feito, mas já que foi vale a pena ser visto. Revisando o primeiro, amar é apaixonar-se por um vampiro que não quer o nosso sangue, mas a nossa escravidão. Foda! E pra terminar assisti (duas vezes), "O Primeiro Que Disse", a prova de que o cinema italiano vai bem, obrigado! Uma comédia excepcional. Daqueles filmes carinhosos, suaves, que tratam de um tema corriqueiro, mas incômodo, como a homossexualidade dentro da família, de uma forma sincera e sonhadora. Como seria bom o mundo se as pessoas vivessem como um filme desses. Onde tudo é complicado, mas tratado de maneira divertida, acaba fazendo da grossura da vida uma coisa boa de ser vivida. Um daqueles filmes que escolhem o humor e a doçura para falar das coisas espinhosas. Divertidíssimo, com atores excepcionais, permite-se refletir a vida como uma possibilidade deliciosa e que ainda abre as portas da poesia para sequências emocionantes. Não vi nenhum dos outros filmes do diretor Ferzan Opztek, mas o cara tem sensibilidade e acredita na vida. Um filme onde tudo funciona, uma fábula cor de rosa (sem trocadilhos!) onde os olhos brilham, os lábios abrem sorrisos leves e compreensivos e dizem, com o coração escancarado, que a vida é bela e só merece ser vivida se for plena. E que não deixa de ter lá seu tom de melancolia, quando o personagem mais interessante da história (a avó) diz com todas as palavras: "Os amores impossíveis são os únicos que nunca acabam. São os que duram por toda a vida". Cinema é a maior diversão!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Hitchcock´s cameos

A mais divertida é em "Ladrão de Casaca", mas as minhas preferidas são em "Os Pássaros" e "Cortina Rasgada". Se bem que em "Intriga Internacional", "Um Barco e Nove Destinos" e "Disque M Para Matar" ele mandou bem!

Freud e Jung dirigidos por Cronenberg?

E com Michael Fassbender e Viggo Mortensen? Há que fazer um esforço muito grande pra não ser excepcional!
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Piéterson, Clarice, Nelson, Thiago, Alphonse, Passo Fundo e gorgonzola...


Sábado à noite em Passo Fundo e o Piéterson olha pra minha cara e diz que tem vontade de jantar uma comida especial.Onde? Apesar de já estar aqui há muito tempo, não conheço os restaurantes especiais. E ele sugere o Tratoria Toscana. Lá fomos e eu encarei um tortelone verde ao molho de gorgonzola. Sensacional! Um dos melhores restaurantes de massa que já visitei. E além de tudo um serviço de primeira e um ambiente dos mais agradáveis. Mas era isso que ia falar? Não. Ia falar de uma longa conversa que tivemos enquanto jantávamos. É bom dividir nossos paradoxos e contradições com um amigo. Porque na conversa tudo parece muito simples, enquanto na vida os (des)caminhos são mais complicados. É, digamos assim, um jantar nu, onde há pouco a esconder e as verdades, das mais inconfessáveis, parecem simples e até palatáveis, ainda mais quando divididas entre gorgonzolas, camarões e mussarelas de búfala. Amigos... como são importantes! Como conseguem deixar a vida mais leve, mais suportável. Lá pelas tantas, eu, aqui, em Passo Fundo, ensaiando "Canalhas!!!", de novo (re)encontrando Nelson Rodrigues, me pego surpreso com a distância. Nelson Rodrigues em Passo Fundo e Clarice Lispector em Curitiba. Eu, distante de Clarice, do Grupo Delírio, da minha casa, de Curitiba... do Espaço Cênico, que sonho transformar numa loucura de arte tão logo volte do meu exílio inesperado. Um espaço pra gente louca de poesia! Será que eu, o Áldice, o Thiago, a Nena conseguiremos? Alguma coisa muito doida me diz que sim. Então vamos lá! Mas, neste sábado de Passo Fundo, onde estou? Como sou? Digo, entre tantos paradoxos e uma garfada na suavidade do gorgonzola: "Tenho tudo o que preciso aqui, neste momento: um amigo, meu cachorricho Speechless e o teatro. Que posso querer mais? Em que outro lugar do mundo posso querer estar? A eternidade mora no presente!" E mais alguns minutos e recebo uma mensagem do Thiago de Curitiba, falando de "Minha Vontade de Ser Bicho" em sua penúltima apresentação: "...arrisco dizer que foi o mais lindo espetáculo desde a estreia..." Quando foi que - realmente! - eu me decidi pelo teatro? Como me sinto bem viajando em seu tapete mágico sem preocupações à direita nem à esquerda. Tudo parece tão claro! Na volta do jantar, numa Passo Fundo quentinha, apesar do inverno, conto ao Piéterson (pela milésima vez!) do quanto amo Clarice e Nelson e como os dois conseguem conviver em mim, numa boa. E como ainda pretendo afundar no universo de Mario Quintana, um poeta que amo com toda a paixão. Será que em 2012? Mas 2012 me reserva Paulo Leminski, Shakespeare e, quem sabe, Reinaldo Arenas! É a paz do estômago cheio, da alma plena, da vontade de nunca parar de pensar pelas palavras e pelas cenas. De amar os atores! Uma lufada de vento e um susto: "Será que não é perigoso imaginar que teatro é simples? Eu que estou me sentindo o máximo porque, pela primeira vez, consigo dirigir um espetáculo onde, além dos atores, só existem cinco cadeiras, cinco copos e duas garrafas de cerveja!" Lembro do Lanza me dizendo que sou o barroco em pessoa. Sou mesmo. Passo Fundo. Atravessamos a praça central e eu me pago pensando as quase 80 peças de teatro que dirigi. Nossa! Não dá pra dizer que foi um acidente! E, porque os pensamentos se misturam e se confundem numa velocidade incrível, lembro da frase mais maluca que ouvi da boca de John Hurt, vivendo Quentin Crisp perto dos 90 anos, olhando-se, semi-nu, no espelho, no filme "Um Inglês em Nova Iorque", que assisti no GNT, dia anterior: "Até o casamento consigo mesmo um dia acaba...". Ô, meu pai! Chegamos e eu, me atiro ao computador. Um e-mail do amigo Alphonse, que não tenho vergonha de mostrar aqui: "Grande Edson! Vc não erra nunca??? Mais uma vez muito obrigado! Sensacional a peça da Clarice Lispector. Irretocável. Aplaudimos de pé +1 vez! Falei com Thiago e fomos muito bem recebidos. A parte que mais me marcou, dentre tantas, foi quase ao final, quando a Marcia Maggi surta e quebra o vaso, aquela fala é demasiadamente interessante, caso se recorde, de que obra da Clarice ela foi extraída? Gostaria muito de ler o texto da peça. Nos falamos no Sesc, lá estarei e te procuro! Fique com uma poesia minha como forma de singela retribuição, me perdoe a ignorância de tardar tanto a tomar ciência de seu grupo e trabalho, de insofismável qualidade. Meus parabéns a você e a todos de sua equipe! Tamo Junto Sempre! "
Que maravilha seria,
Se eu pudesse,
Fazer
Tantas coisas quisesse,
O que faria,
Se tivesse esse condão?
Mas tenho!
E não faço?
Ou faço?
E não sei...
Estranha liberdade
Vigiada?
Talvez!
Só sei,
Que o que eu quero fazer,
Eu faço!
Sou livre!
Livre para amar,
Livre para voar,
Livre para ganhar,
Livre para perder,
Livre, livre...
Mas às vezes,
Ou sempre,
Me sinto tão livre,
Quanto um pássaro em uma gaiola,
Quanto um louco no pinel.
Quisera eu,
Pudera eu,
Ser mais louco que sou,
Ir mais a fundo nos meus pensamentos,
Fugir da normalidade
Que nos guia e domina
E não sabemos
Se nos faz
FELIZES...
E vou dormir ansioso pelo domingo, com o coração aos trancos e barrancos, a alma adocicando vagarosamente, Nelson Rodrigues sentado à beira do colchão, Piéterson, Marcio, Robson, Pedro e Maicon passeando pelo palco da minha imaginação e, agarrado ao Speechless, sei que a vida é sonho e que dele, vou ainda tirar muita coisa linda pra transformar em teatro! Ah! E cutucando a minha alma de artista, uma frase do Nelson, que acabei de ler, escrita em maio de 1968: "Daqui por diante, só darei uma peça minha ao diretor que provar a sua imbecilidade profunda." Abenção, Nelson! Como te adoro! E obrigado pela parte que me cabe!

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Então, se o negócio é sucesso de bilheteria!!!

"De Pernas Pro Ar" - o maior sucesso da bilheteria nacional em 2011!

Deu no blog do Arthur Xexéo: “Com a estreia, nesta sexta-feira, de "Não se preocupe, nada vai dar certo", de Hugo Carvana, o cinema brasileiro vai atestar se este é mesmo o seu melhor período dos últimos anos em termos de bilheteria. Como comprova o site Filme B, os números, desde o mês passado, são consagradores. "Cilada.com" já ultrapassou a marca de 2,5 milhões de espectadores. "Qualquer gato vira-lata" chegou, no último fim de semana, a 1,1 milhões. E "Assalto ao Banco Central" alcançou, no meio desta semana, seu primeiro milhão de espectadores. Essas bilheterias associadas a sucessos do começo do ano, como "De pernas pro ar" (3,5 milhões) e "Bruna Surfistinha" (pouco mais de dois milhões) devem trazer ao cinema brasileiro uma ótima participação no mercado em 2011.” Então é isso, o Cinema Brasileiro vai de vento em popa! Até acho fantásticos e comemoráveis estes números se levarmos em conta que o cinema americano (guardando as devidas proporções...) também navega em águas parecidas. As maiores bilheterias do ano, as que carregam milhões de pessoas para os multiplex, são porcarias feitas para aguçar olhos amortecidos e preguiçosos. Até este meio de ano quem deu as cartas por lá foi “Transformers 3” (mais do que abaixo da crítica), “Se Beber Não Case 2” (despencando no lodo), “Capitão América” (de doer de chato!), “Piratas do Caribe 4” (Johnny Depp metaformoseando grande interpretação em canastrice metida a paródia!) e outros tão ruins quanto...! “X-Men 4”, “Rio”, “Midnight In Paris” são apenas boas exceções. Então que até aí, tudo bem! Mas o que torra a paciência é que você não vê em cartaz filmes brasileiros verdadeiramente artísticos, preocupados com questões humanas, com linguagem ou com beleza. Não é possível? Oras, mas tudo não é patrocinado pelo governo? Então, o que custa fazer um exerciciozinho de imaginação, pegar um dinheiro desses e fazer uns dez ou doze filmes no nível de um “O Segredo dos Seus Olhos” (Argentina) ou “Poesia” (Coreia do Sul), por exemplo? Esse é o mistério que ronda a nova onda do cinema brasileiro. Há, de verdade, o que comemorar? É a expressão da alma brasileira que se vê em alguns daqueles filmes que estouraram nas bilheterias? Estava hoje assistindo a um filme muito interessante feito para a televisão inglêsa em 2009: “Um Inglês em Nova Iorque”, sobre o homossexual assumidíssimo, Quentin Crisp (1908/1999). Em determinado momento uma garota olha para ele e solta algo como: “Você é tão viado que nem gay é!” Perfeito! Mas não era disso que eu ia falar. Quentin, interpretado no crepúsculo, pelo maravilhoso John Hurt, a certa altura apresenta um artista plástico a um dono de galeria e o cara recusa o trabalha com o argumento de que, em nossos tempos, ninguém está preocupado com mensagens, ninguém quer saber de bandeiras, de arte engajada em ideias. E Quentin, entediado pela mediocridade geral, comenta: “Arte que não pensa, que mantém todo mundo no conforto…..”. Mais ou menos isso. Pra conseguir dinheiro do governo (leia-se povo brasileiro!), o sujeito tem que convencer um diretor de marketing de uma empresa qualquer, que o filme vai ser um sucesso... de público, claro! Alguma coisa está fora da ordem... Godard disse dia desses que o cinema de autor estava acabado: “Se um norueguês consegue fazer um filme tão ruim como no cinema americano...!” Na mosca, grande Godard!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

NOVELAS...



Não tem jeito. Aqui em Passo Fundo está passando "Capitão América", "Capitão América", "Capitão América" e "Capitão América", então que nos intervalos dos ensaios de "Canalhas!!!" eu deito no sofá nesse frio de zero grau, agarro-me ao meu cachorricho Speechless, enrolo-me nas cobertas, faço um capuccino e me atraco na televisão. Mediocridade? Talvez, mas acho que é um descanso de loucura, como diria o Guimarães Rosa. Claro que reduzo a capacidade cerebral ao mínimo indispensável e me divirto demais, por exemplo, com a Fernanda Torres em "Entre Tapas e Beijos". Essa mulher é um monstro! Uma criatura inigualável, faz de uma dobrada de joelhos a coisa mais engraçada do mundo, e não tenho dúvidas de que o seu repertório de caretas e intenções deve ultrapassar fácil um milhão! O roteiro? Sem comentários. Novelas. Acho que já disse que houve um tempo em que escrever uma novela deveria necessariamente levar em conta duas leis: mocinho e mocinha têm que ser idiotas e não devem, nunca, enxergar um palmo diante do nariz, e as tramas devem ser idiotas, como se os personagens em geral, não conseguisses distinguir um colibri de um rinoceronte. Hoje um terceiro elemento deve ser levado em consideração: o público também tem que ser idiota! E por isso agora, a televisão brasileira vai de vento em popa, ampliando suas garras metálicas para o cinema brasileiro. Parafraseando Nelson Rodrigues, coloque um idiota em cima de um caixote numa esquina qualquer, dando um discurso, e dezenas, centenas, milhares de idiotas vão segui-lo cegamente. Não sei porque, mas aqui, deitado na poltrona, assistindo "O Astro", estou me sentindo um idiota perfeito. Mas tenho que considerar que a Regina Duarte é um gênio. Nesse capítulo de quarta-feira ela deu um show. Me fez jogar as cobertas pra cima, rir, gritar e aplaudir! Uma atriz como ela faz uma novela inteira parecer "E O Vento Levou"! E olha que ela, corajosamente, encarou uma parada dura: refazer um personagem que foi interpretado por Tereza Rachel, uma das atrizes mais poderosas que eu já vi na vida. As duas são ótimas, mas têm processos diferentes. A Regina interpreta com o coração e a Tereza com a xana, por isso a Tereza vai a lugares inimagináveis. Nenhum problema, a Regina me deu prazeres nesse capítulo de "O Astro" que eu não tinha há muito tempo na televisão. E o Tarcísio Meira? Em nova chanchada do Hugo Carvana! Deu uma declaração, no mínimo estranha: "Fazer galã é muito chato!". Ué, ele queria fazer galã aos 80 anos? Passou a vida inteira fazendo caras e bocas de mocinho e agora, sátiro gagá, faz a caricatura de si próprio "interpretando" um lelé da cuca desgovernado em "Não se preocupe, nada vai dar certo". O filme do Carvana pode até ser bom (e espero que seja!), mas o trailer é podre de ruim. Assisti "Hanna", do Joe Wrigth (Desejo e Reparação), com a Saoirse Ronan e a Cate Blanchet. É daqueles filmes excelentes que saem do nada pra chegar a lugar nenhum, mas são divertidíssimos! E a Cate Blachet, na maior cara de pau, interpreta a mesma bandida que fez no quarto Indiana Jones; só que lá de cabelos pretos e aqui ruivos. Ganhou o cachê fácil! Depois eu falo.